Resenha de “As Tecnologias da Inteligência”, de Pierre Lévy

O filósofo francês Pierre Lévy, professor da Universidade de Ottawa, no Canadá, é um dos mais importantes estudiosos dos efeitos das tecnologias de comunicação do mundo contemporâneo. O livro “As tecnologias da Inteligência” tem como tema central o papel da informação na constituição das culturas e inteligências dos grupos humanos.

O autor faz uma abordagem das tecnologias, as quais denomina “tecnologias inteligentes”, defendendo a tese da história da inteligência através de “coletivos cosmopolitas” compostos de indivíduos, instituições e técnicas. Ao desenvolver o conceito de ecologia cognitiva irá defender a idéias “de um coletivo pensante homens-coisas, coletivo dinâmico povoado por singularidades atuantes e subjetividades mutantes(...)”. (p.11)

A questão da técnica ocupa uma posição central; para tanto, o autor conduz-nos a uma revisão tanto da filosofia política como também da filosofia do conhecimento, mostrando que as categorias usuais da filosofia do conhecimento tais como mito, a ciência, a teoria, a interpretação ou a objetividade dependem intimamente do uso histórico, datado e localizado de certas tecnologias intelectuais. O propósito é designar as tecnologias intelectuais como um terreno político fundamental, como lugar de conflitos, de interpretações divergentes. Para o autor “uma reapropriação mental do fenômeno técnico parece um pré-requisito indispensável para a instauração progressiva de uma tecnodemocracia”(p.8)

O autor tentará mostrar que não existe informática em geral e não apresentará nem uma apologia nem uma crítica à mesma, mas sim um ensaio de avaliação das questões antropológicas ligadas ao crescente uso do computador.

Razões de duas ordens levaram-nos a empreender a presente obra: um número crescente de críticas foram feitas ao seu trabalho anterior (La Machine Univers – 1987) e o autor deseja sinalizar ao leitor que o trabalho sobre as implicações culturais da informática foi retomado a partir do ponto de vista mais fraco da obra anterior, aquele que se refere às transmissões, às traduções e às deformações que modelam o devir social, às interfaces. A segunda razão está relacionada com uma mudança de posição em relação a seu objeto. Em La Machine Univers, Levy desenvolveu sua pesquisa enquanto sociólogo, historiador, filósofo, na posição de observador externo. Na presente obra ele participa enquanto engenheiro do conhecimento, e encontra-se vivenciando, na prática, projetos de multimídia interativa de suporte informático.

A primeira parte deste livro, “A metáfora do hipertexto”, é consagrada à informática de comunicação naquilo que ela tem de mais original em relação às outras mídias. Será visto em particular que o hipertexto (cujo conceito será amplamente definido e ilustrado) representa sem dúvida um dos futuros da escrita e da leitura. Mas, longe de limitarem-se a uma simples pintura das novas técnicas de comunicação de suporte informático, as páginas que se seguem entrelaçam sempre um fio reflexivo ao fio descritivo. Na segunda parte deste livro: “Os três tempos do espírito, oralidade, escrita, informática”, Levy tomará uma certa distância em relação às evoluções contemporâneas, ressituando-as em uma continuidade histórica. Na terceira parte será abordado a “ecologia cognitiva” ao propor uma abordagem ecológica da cognição, o autor espera contribuir para renovar o debate em andamento sobre o devir do sujeito, razão e cultura.